sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

► Pessoas invisíveis ◄

Pois é... o ano mudou, o carnaval passou e agora sim o Brasil volta a funcionar. Já que é assim, eu também estou de volta. Espero selar com você um compromisso sério... eu sempre postando e você sempre lendo. Comentar pode ser às vezes, tá?!

Já tem um tempo que quero escrever sobre temas que são debatidos na TV e que me instigam em verdades que tenho dentro de mim e sinto necessidade de dividir. Este é o meu primeiro post que trata aqui de um tema vindo da televisão. Uma mídia servindo outra mídia.

Como o título da publicação já diz, quero pensar hoje nas pessoas invisíveis. Conhece alguma?! Além de conhecer, me percebi tornando algumas pessoas invisíveis. Aquelas pessoas que existem, ocupam um espaço e gostariam de ser enxergadas por pessoas que, como eu, não as vêem por que não querem ou por qualquer outro motivo.

Um exemplo? O cara que varre a rua de casa. Se você me perguntar como ele é, não vou saber dizer. E não é porque nunca o encontrei aqui na frente de casa não... é por que eu não enxerguei o responsável pela limpeza da porta de casa. Outro exemplo? O marronzinho que pára o transito pra eu atravessar a rua com a minha avó numa avenida aqui perto de casa. Já aconteceu várias vezes e várias vezes eu olhei e agradeci (diria que num gesto automático). Mas se você me perguntar como ele é, jamais vou chegar perto da descrição correta. Por que?! Porque ele é - ou era - invisível aos meus olhos.

O mendigo na rua pedindo dinheiro. Confesso que muitas, inúmeras, vezes passei e arbitrariamente o tornei invisível. Foi uma forma de fugir da triste realidade em que vivo. Uma maneira simples de dizer a mim mesmo - como se quisesse me convencer - de que não tenho absolutamente nada a ver com a realidade daquela pessoa. Passar e não ver o braço da pessoa estendido é não querer me confrontar com a minha irritante indiferença.

Terça-feira de carnaval fui a um baile noturno e lá encontrei - leia-se: esbarrei - num funcionário de uma loja que freqüento com a minha sobrinha. Na loja já trocamos algumas palavras, algumas monossilábicas até, mas o pouco que nos falamos já foi o suficiente pra sabermos da existência um do outro, certo?! Parece-me que não. Passamos lado a lado e adivinhe?! Não nos cumprimentamos. E sabe por que? Eu pensei bastante e entendi que é porque nossa relação cliente/consumidor se dá somente dentro daquela loja. Fora, nós somos e até um de nós tomar a iniciativa do contrario, apenas vendedor-comprador. Isto é um querer tornar o outro invisível.

Na adolescência me senti muitas vezes invisível. As vezes ainda me sinto. A diferença é que hoje sei apertar o botão da desinvisibilidade. A única coisa que percebo é que preciso apertar o botão da desinvisibilidade constantemente. Tanto pra mim quanto para os outros. É uma meta para 2008: Aprender a enxergar, de fato, as pessoas. Hoje não sei nem o rosto do rapaz que me entrega o jornal. Parece que por encanto o jornal aparece aqui em casa logo pela manhã. E obviamente eu sei que não é assim.

Isso tudo me faz pensar na possibilidade de me descobrir e descobrir o mundo como um coletivo apenas interesseiro. Reconhecendo, enxergando apenas as pessoas que de alguma forma tem algo que seja do nosso interesse. Doentio pensar numa humanidade assim. Será que estou alçando vôos altos no meu pensamento [vazio] ??

Não quero ser, não quero tornar e nem aceitar as pessoas invisíveis. Todo mundo nasceu pra ser visto. Até mesmo o gari que veste roupa alaranjada - destacando-o na rua - vai ser notado, pelo menos por mim. Indiferença, tô fora!