segunda-feira, 8 de outubro de 2007

E o BOPE ta dando IBOPE!

E aí, assistindo o (Cineasta) Padilha, no Roda Viva, fiquei pensando em tantas coisas das quais muitas vezes faço ferrenhas criticas aos meus alunos: que é o de engolir o produto ofertado sem ao menos mastigá-lo. É claro que durante o filme, em inúmeras ocasiões, eu buscava algumas respostas para as tramas que iam se armando, mas escutando o diretor dizendo que o filme foi feito com seqüências rápidas que, arbitrariamente, não permite o espectador pensar naquilo que vê na tela (muito provavelmente da sua TV, pois ele já adquiriu o seu DVD pirata - e essa é uma observação minha). Oras, quantas vezes não atentei meus alunos a perceberem de antemão essas armadilhas preparadas por quem forma opiniões?! Várias!

Chocante para mim também foi entender, e só agora percebo isso, que o Capitão Nascimento é o cara que veio para ser herói sim. Não no sentido cândido do maniqueísmo, mas no sentido de fazer as pessoas (eu, você e o camelô que tá vendendo a cópia pirata) entenderem que ele cumpriu o seu papel de provocar a reflexão numa sociedade que anda acusando o Padilha de ser fascista quando, penso eu, quem ta enxergando isso são articuladores reacionários. O Capitão Nascimento é sim um agente multiplicador da forma banal como as pessoas têem enxergado a vida humana, mas não deixou de ser o cara que suscitou, e provavelmente o fará por algum tempo, discussões sobre um sistema podre, falido, corroído e que só sobrevive porque se aproxima da auto-suficiência. Além de termos um Estado que age exatamente da mesma forma que esses policiais, já desacreditados pela sociedade, fazem. Um Estado torturador e que conta com a corroboração das pessoas que, ou desconhecem o mundo selvagem e preferem não saber do seu funcionamento ou são omissas no quesito vidas alheias e permissivas no quesito "cuidem disso pra mim".

O filme é um poço de questionamentos que precisam ser feitos. E muito me surpreendeu ouvir o cara não separar a razão da emoção para tentar explicar o sucesso desse longa. Até hoje pensava que para haver uma coisa era preciso a ausência da outra (Kant dizia isso. Me corrijam, por favor, se eu estiver falando a maior de todas as besteiras deste post). Mas, como disse ele, assim como na filosofia as idéias mudaram e a grande sacada para o cinema também foi modificar o modo de narrar seus personagens. Você se choca ao ver o bandido cometendo atrocidade, mas entende - quase que com compaixão - o ato do vilão quando a cena te remete para a infância sofrida, dolorida e hostilizada que ele levou enquanto estava sendo abusado sexualmente quando criança, enquanto era espancado pelo pai bêbado quando tentava defender a mãe que apanhava na hora que o marido chegava em casa ou quando na escola ele era rejeitado pelos amigos por ser pobre e negro. Paradoxal, não é mesmo?!